A influência das montanhas no vinho

Francisca JaraFrancisca Jara

Francisca Jara

12/12/2023

A geografia desempenha um papel fundamental no sabor do vinho: ela determina as condições sob as quais as uvas são cultivadas e a maneira como poderão amadurecer. Estamos falando do solo, da temperatura e, é claro, da elevação dos vinhedos nas montanhas.

No universo do vinho usa-se muito a palavra terroir. Ela está relacionada com as condições sob as quais as uvas se desenvolvem, influenciadas diretamente pela geografia. É uma equação em que solos, temperatura, altitude e elevação determinam em grande medida o caráter do vinho final. Há inclusive quem garante que a localização poderia transcender a variedade de uva e ser ainda mais determinante.

Relacionadas com as montanhas e os vales, a altura e a elevação são um fator conclusivo na viticultura e, portanto, no sabor do vinho. Como assim? As videiras que crescem em altitude têm maior exposição à radiação solar (fundamental para o desenvolvimento dos aromas), mas também estão expostas a temperaturas mais baixas, o que faz com que o processo de maturação seja mais lento. Consequentemente, as uvas têm maior acidez e um perfil aromático mais complexo. E é aqui que a mão do homem e dos viticultores desempenha um papel fundamental, na escolha da posição ideal do vinhedo para ele poder receber a luz do sol, ter um bom amadurecimento e uvas equilibradas. Um excelente exemplo são os vinhedos que recebem o sol pela manhã, como é o caso dos internacionalmente elogiados vinhos de Barolo.

No entanto, tem alguma coisa nos vinhos de altitude que pode ser percebido rapidamente. Eles se caracterizam por apresentarem uma grande concentração de taninos (muito elegantes) e, portanto, costumam requerer maior tempo em barrica e de guarda.

Por outro lado, em países produtores de uva com climas quentes, como é o caso do Chile e da Argentina, a altitude que as cordilheiras da Costa e dos Andes oferecem e a elevação em seus vales podem proporcionar aos vinhedos um certo alívio do calor. Estatisticamente, para cada 100 metros de altitude, a temperatura diminui 0,6 graus Celsius. Além disso, a amplitude térmica entre o dia e a noite também é maior, o que reforça o frescor dos vinhos.

No caso do Gran Reserva Cabernet Sauvignon, as uvas são cultivadas no vinhedo Palo Santo, localizado a 180 metros de altitude, em uma área privilegiada que se estende ao longo de colinas e terraços ao sul do rio Tinguiririca. É um vinho que oferece grande concentração de sabores e onde a altitude não se expressa dramaticamente devido à influência do rio, que modera a temperatura. Já as videiras do vinhedo Peumo, de onde o Gran Reserva Carménère é proveniente, têm as raízes em terraços e colinas das montanhas litorâneas (a 170 metros de altitude), e crescem uma ao lado da outra ao longo do rio Cachapoal. Em ambos os casos, se trata de dois vinhos tintos muito frutados que se destacam pelo frescor, mas principalmente o Gran Reserva Carménère apresenta um caráter crocante que é percebido muito bem quando o vinho é servido com carne vermelha e queijos maturados.

As colinas são capazes de oferecer aos vinhedos proteção contra os ventos frios que passam pelos vales, ajudando a criar microclimas perfeitos para a produção de certas variedades, proporcionando também calor em áreas mais frias.

Como você pode ver, a participação das montanhas é fundamental, e graças às características que elas conferem aos vinhos, como a acidez, estes têm um grande potencial de guarda, longevidade e evolução na garrafa. No Dia Internacional das Montanhas, convidamos você a se conscientizar sobre estas joias naturais que, além de abastecer a humanidade de água doce e abrigar metade da reserva da diversidade biológica do mundo, hoje estão ameaçadas pelas mudanças climáticas.